segunda-feira, março 23, 2009

A Religião Falsa

Depois de argumentar em favor da idéia do conhecimento de Deus implantado em todo homem, o reformador adverte para o fato de que esse conhecimento não produz a verdadeira piedade, mas, distorcido pela maldade humana e pela ignorância, produz falsas religiões e superstição. O ser humano que não busca o verdadeiro conhecimento de Deus acaba adorando a "fantasia e sonho de seu coração" (1.4.1, p.51).
"Nisso se percebe vaidade, e certamente aliada ao orgulho, a saber, que, buscando a Deus, os desventurados seres humanos não sobem além de si mesmos, como seria necessário, antes o medem em conformidade com o padrão de sua obtusidade carnal, e negligenciando a sólida investigação, movidos de curiosidade, andam em volta de vãs especulações." (idem)
Ao digitar esse texto, o que me veio à mente não foram as religiões estranhas ao Cristianismo (o que seria o óbvio), mas justamente aqueles subramos que se dedicam a criar costumes e práticas para si próprios, sem levar em consideração a boa exegese da Bíblia. Uma má interpretação da Escritura acaba gerando superstições dentro da igreja. O trecho sobre especulações também chama atenção, pois serve de advertência contra aqueles que preferem fazer escatologia nas páginas de jornal e especular sobre quem ou o que é o Anticristo - deixando de lado o contexto e as explicações do Senhor e dos apóstolos.
João Calvino também critica aqueles que afastam-se de Deus, pois ao fazerem isso estão negando sua existência. Para o reformador, a necessidade de pecar e escapar do juízo de Deus leva o homem, mesmo inconscientemente, a essa "solução".
"Ora, como nada é menos próprio de Deus que, posto de parte, permitir à sorte o governo do mundo, e fechar os olhos às impiedades dos homens, para que se entreguem impunemente a todos os desregramentos; qualquer um que, eliminado o temor do julgamento celeste, cede despreocupado à prática do que lhe vem ao talante, está a negar que Deus existe." (1.4.2, p.52)
Outro alerta que esse capítulo nos dá diz respeito a querer afirmar mais sobre Deus que podemos. Isto é idolatria. Cito o exemplo daqueles que querem tratar o Criador como alguém do gênero feminino ou com pronomes neutros. Ainda que Yahweh certamente não é um ser do sexo masculino, foi assim, com pronomes e termos masculinos que ele resolveu se revelar. Chamá-lo de Mãe é uma forma de idolatria, por não tratarmos Deus em seus próprios termos.
"A verdadeira religião deve ser conformada ao arbítrio de Deus como a uma norma perpétua: que Deus, em verdade, permanece sempre imutável em seu ser; que ele não é um espectro ou fantasma que se transmuda ao talante de cada um... Tampouco vem ao caso, pelo menos neste ponto, se porventura concebes a um só Deus ou a muitos, porque sempre te apartas do Deus verdadeiro e dele careces quando, deixado ele de parte, nada te resta senão um ídolo execrável. Portanto, com Lactâncio se nos impõe concluir que nenhuma religião genuína existe, a menos que esteja em harmonia com a verdade." (1.4.3, p.53)
Concluindo, Calvino também cita a hipocrisia como uma maneira de distorcer o conhecimento de Deus. Trata-se das pessoas que tem aparência de piedade, que "exercitam algo que tenha a aparência de religião" (1.4.4, p.54). Para ele, esse fingimento é semelhante a todos os outros males citados, seja idolatria, seja superstição.

quinta-feira, março 19, 2009

Calvinismo e Ateísmo

 

Do Livro 1, Capítulo 3
"Como o declara aquele pagão [Cícero], não há nenhuma nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem, no qual não esteja profundamente arraigada esta convicção: Deus existe!" (1.3.1, p.47)
Por que todas as culturas e povos adotam algum tipo de religião? A resposta, para Calvino, é simples. É algo que ele chama de "semente da religião", uma noção geral da Divindade implantada pelo próprio Criador. É irônico, mas a idolatria torna-se uma das provas de que há um Deus.
"Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas." (idem)
Porém, esse não é o tipo de conhecimento que nos leva à salvação. Pelo contrário, transforma-se em condenação, ao tornar os homens inexcusáveis. Isto é, ninguém pode apresentar a desculpa de "eu não sabia que existia um Deus". Essa idéia é desenvolvida por Paulo nos primeiros capítulos de Romanos, ao demonstrar que os pagãos não poderão levantar esse argumento no dia do julgamento.
Portanto, a base para a responsabilidade do homem (como é bastante enfatizado pelo filósofo e teólogo Gordon Clark) é o conhecimento, e não a liberdade. Isso nos será importante mais para frente.
"Como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade." (idem)
Com isso, o reformador nega qualquer possibilidade de um ateísmo real. Isso me lembra o caso de um amigo meu, que se diz agnóstico. Ao falar de certo temor que eu tinha, perguntei se em momentos de desespero ele é mais ateu ou mais crédulo. "Nessas horas sou crente", respondeu.
"Pois, ainda que no passado tenham existido alguns, e hoje eles não são poucos, que neguem existir Deus, contudo, queiram ou não queiram, de quando em quando acode-lhes certo sentimento daquilo que desejam ignorar." (1.3.2, p.48)
Por mais que o ser humano deseje, terá dificuldade em libertar-se da verdade implantada em sua mente. Seria exagero comparar a batalha dos ateus superstars contra a fé à luta de Quixote contra os moinhos, mas não podemos negar que a situação é parecida. A cada conversão ao ateísmo milhões de "fiéis" nascem por toda a terra.
"Donde concluímos que esta não é uma doutrina que se aprende na escola, mas que cada um, desde o ventre materno, deve ser mestre dela para si próprio, e da qual a própria natureza não permite que alguém esqueça, ainda que muitos há que põem todo seu empenho nessa tarefa" (1.3.3, p.49)
Para Calvino, ao contrário do que afirma Christopher Hitchens, a religião não envenena tudo, mas evita que o homem torne-se semelhante às criaturas que deveria dominar. Negar a existência de Deus é negar a imagem divina no homem, algo que vemos atualmente com bastante frequência. Não é incomum vermos especialistas (em alguma coisa) compararem o homem a uma máquina em busca de sexo e poder, a um animal mais esperto ou algo pior. Isso não é simplesmente uma metáfora. Para muitos, realmente é isso que somos.
"Os homens, uma vez que a religião lhes seja ausente da vida, não só em nada excedem aos animais, mas até em muitos aspectos lhes são muito mais dignos de lástima, porquanto, sujeitos a tantas espécies de males, levam de contínuo uma vida tumultuária e desassossegada. Portanto, o que nos faz superiores é tão-somente o culto de Deus, mediante o qual se aspira à imortalidade." (1.3.3, p.50)

segunda-feira, março 16, 2009

O que é uma Igreja Confessional ?

Por confessional entende-se que é aquele que sempre confessa aquilo que crê. Nesse sentido, todas as igrejas, bem como todos os crentes, são “confessionais”; isto é, formulam uma “confissão de fé”, geralmente verbal, todas as vezes que afirmam crer ou não crer em determinados princípios. Estranhamente ouvimos “membros”, presbíteros, diáconos e até pastores fazendo a seguinte afirmação acerca dos “princípios confessionais” adotados oficialmente pela IPB: “Meu negócio é a Bíblia, não quero saber de mais nenhum outro livro”. Longe de ser essa uma afirmação espiritual, é, antes, extremamente contraditória, pois essas mesmas pessoas se aventuram a opinar sobre os mais diversos temas das Escrituras e mesmo sem nunca terem estudado, seriamente, o assunto, formulam, prontamente sua “confissão de fé”: “Eu penso assim ou eu não acredito dessa maneira!”. E os pastores? O que fazem quando pregam, se não uma verdadeira “confissão de fé” daquilo que estão crendo ser a interpretação correta!?

A questão é: a qual das “confissões de fé” devemos dar crédito? A confissão de fé que tem sido regularmente formulada por pessoas reconhecidamente despreparadas e que estudaram tais assuntos, apenas superficialmente (quando estudam) ou à confissão de Fé de Westminster, formulada por cerca de 121 dos maiores e melhores teólogos que a história já conheceu, em sete meses de calorosas discussões?

A confissão de Fé de Westminster nada mais é que a “interpretação oficial” e que a IPB entende como sendo correta e coerente das Escrituras Sagradas, sobre assuntos como: contemporaneidade dos dons e suficiência das Escrituras, livre arbítrio, casamento, divórcio, etc. Em síntese, é a posição oficial da IPB sobre esses e muitos outros assuntos.

A Constituição da IPB, no artigo 28 dos Princípios de Liturgia, estabelece que nenhum presbítero, nenhum diácono e nenhum pastor, pode ser eleito e/ou ordenado se não subscrever os símbolos de fé da IPB, entre eles a Confissão de Westminster; ou seja, não podem ser eleitos/ordenados aqueles que acreditam diferentemente da interpretação oficial da IPB, vejamos: “Art.28: Os presbíteros e diáconos assumirão compromisso na reafirmação de sua crença nas Sagradas Escrituras como a Palavra de Deus e na lealdade à Confissão de Fé, aos catecismos e à Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil”.

Mas, Parafraseando o dito paulino: “como subscreverão a Confissão de Fé de Westminster, adotada pela IPB como a real exposição das escrituras, se não a conhecem? Contudo, devemos lembrar: a falta de conhecimento das leis de trânsito, por exemplo, não isenta o motorista desavisado de ser punido com multa. Da mesma forma, os Presbíteros, Pastores e Diáconos precisam, urgentemente, parar de dar suas “próprias opiniões” (sem o devido aprofundamento); precisam adquirir e estudar a Confissão de Westminster ou então abdicar de seus ofícios. Essa falta de conhecimento dos símbolos de fé da IPB está transformando nossa igreja numa imensa colcha de retalhos. Lembremos do que nos ensinou o Senhor: “Um reino dividido contra si mesmo não subsiste” (Mc 3:24).

sexta-feira, março 06, 2009

Veja o video da exortação de John Piper sobre aborto