quinta-feira, janeiro 24, 2008

Capítulo XV - Vol 4 - Sobre o Poder Eclesiástico











1. Combate introdutório contra o clero usurpador[1536] Assim como tudo o que foi dito anteriormente sobre a liberdade cristã pertence ao reino espiritual, igualmente nesta discussão não combatemos a autoridade das leis civis, mas o poder que usurpam os que querem ser vistos como pastores da igreja e, ao contrário, são, verdadeiramente, carrasco cruéis. Porque eles dizem que as leis por eles feitas são espirituais e pertinentes à alma e afirma que são necessárias à vida eterna. Com isso, o reino de Cristo sofre assalto e é violado, e a liberdade por ele dada à consciência dos crentes sofre opressão e é derribada. Por ora eu deixo de falar sobre qual impiedade eles baseiam a observância das suas leis, alegando eles que por esse meio obtemos a remissão dos pecados e a justiça, incluindo nelas a soma total da religião.Por ora só debaterei o seguinte ponto: não se deve impor necessidade ou obrigatoriedade ás consciências nas coisas das quais elas foram libertadas por Jesus Cristo, recebendo liberdade sem a qual elas não podem estar em paz com Deus, como previamente ensinamos.
2. Reconheçamos um só Rei, Cristo, e uma só lei, a lei da liberdade em CristoAs consciências cristãs devem reconhecer como Rei um só Cristo, seu Libertados, e que são governadas somente pela lei da liberdade, que é sagrada Palavra do evangelho. Isto se é que desejam manter a graça que uma vez obtiveram em Jesus Cristo. E que elas não se sujeitem a nenhuma servidão, nem se deixem capturar por laço algum.
3. Onde o jugo suave e o fardo leve?Esses legisladores fazem parecer que as suas constituições são leis de liberdade, jugo suave e fardo leve. Mas quem não vê que são puras mentiras? Quanto a eles próprios, nem sentem o peso da suas leis, visto que, tendo rejeitado totalmente o temor de Deus, com atrevimento desprezam igualmente as suas leis e as de Deus. Mas os que se sentem tocados por algum sentimento de dever quanto à sua salvação, estão muito longe de considerar-se livres, tão presos estão aos seus laços.
4. Que diferença de Paulo!Vemos quão diligentemente Paulo evitou sobrecarregar as consciências, ao ponto de não ousar prendê-las nem com uma só coisa. E não sem motivo. Certamente ele sabia que é verdadeira praga mortal impor ás consciências a obrigatoriedade das coisas cuja liberdade lhes foi dada por deus. Por outro lado, com dificuldade se poderia contar as numerosas constituições que os que aqui estamos combatendo têm ordenado rigorosamente, sob pena de morte eterna, e às quais eles obrigado têm ordenado rigorosamente, sob pena de morte eterna, e às quais eles obrigam os homens como sendo essenciais à salvação. Entre elas há exigências muito difíceis de cumprir, e, tomadas todas em conjunto, são inexeqüíveis, pelo seu número excessivamente grande. Que é que se pode fazer, então, para que não se sintam premidos de angústia e perplexidade os que se sentem sobrecarregados com tão duto fardo?Por isso nos cabe concluir brevemente, conforme já ensinamos, que a nossa consciência não deve levada a considerar-se obrigada para com Deus a todas as constituições feitas com o fim de manter presas as almas crentes perante Deus, incluindo uma obrigação, como se ordenassem coisas indispensáveis para a salvação. Ora, são desse jaez todas as constituições hoje chamadas eclesiásticas, as quais eles dizem que são necessárias para que honremos e sirvamos bem a Deus. E como são inumeráveis tais constituições, igualmente inumeráveis são os laços que tendem a manter cativa a nossa alma.
5.Não há então nenhum poder eclesiástico legítimo?Como, então? Não há nenhum poder eclesiástico? Muitas pessoas simples, que são as que principalmente desejamos ensinar, espantam-se com essa nossa objeção.Respondemos que na verdade não reconhecemos nenhum poder eclesiástico, a não se que, como diz o apóstolo Paulo [2Co 10 E13], seja dado para edificação, não para destruição. Os que fazem bom uso desse poder não se consideram nada mais do que “ministro de cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” [1Co 4.1].

Autor: João CalvinoFonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 4, pg 105,106.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Ação Social Puritana - Parte 2


Ação Social Puritana - Parte 2
Leland RykenReferencia






A Base Moral e Teológica para a Ação Social Cristã
O que estava por trás deste posicionamento Puritano pela ação social? A resposta é tanto moral como teológica. No lado moral, os Puritanos estavam convencidos de que os cristãos são responsáveis por aqueles em necessidade. Sua ação social estava arraigada na consciência moral cristã. "A verdadeira moralidade, ou a ética cristã", escreveu Baxter, "é o amor a Deus e ao homem, incitado pelo Espírito de Cristo pela fé; e exercido nas obras de piedade, justiça, caridade e temperança". Noutro lugar Baxter advertiu: "Cuidado para não perder aquele amor comum que deves à humanidade". Para William Ames: "servir ou beneficiar os outros é um dever que pertence a todos os homena... Amor a Deus não pode subsistir sem esta caridade pelo nosso próximo nem o pode qualquer verdadeira religião".
"Os Puritanos acreditavam que o Novo Nascimento resulta em preocupação social. A piedade genuína produz boas obras, que são atos de gratidão, não de mérito."
Houve também um lado teológico do envolvimento social Puritano. Em contraste com as perspectivas católicas das boas obras como algo que ajuda a assegurar a salvação, os Puritanos acreditavam que o Novo Nascimento resulta em preocupação social. A piedade genuína produz boas obras, que são atos de gratidão, não de mérito. Cotton Mather disse de seu pai:
Uma nobre demonstração deu ele de que aqueles que fazem boas obras porque já são justificados, não farão menos do que aqueles que fazem boas obras para que possam ser justificados; e que aqueles que renunciam a toda pretensão de mérito por suas boas obras, abundarão mais em boas obras do que os maiores negociantes de méritos no mundo.
Este tema de piedade produzindo moralidade foi um dos tópicos mais comuns entre os Puritanos. "Preceitos sem padrões farão pouco bem", escreveu Eleazar Mather; "deve-se... falar pela vida assim como pelas palavras; deve-se viver a religião, tanto quanto falar em religião”. William Ames concordou: "Obediência interna não é suficiente por si, porque todo o homem deve sujeitar-se a Deus. Nossos corpos devem ser oferecidos a Deus".
Ação Social Pessoal em vez de Institucional
Os Puritanos tinham muito mais confiança na responsabilidade social individual do que nas agências governamentais e sociais. Para eles, a ação social eficaz começava com o indivíduo. Richard Greenham escreveu:
Certamente se os homens fossem cuidadosos em reformar a si mesmos primeiro, e então suas próprias famílias, veriam as múltiplas bênçãos de Deus na nossa terra e sobre a igreja e a comunidade. Pois de pessoas particulares vêm famílias; de famílias, cidades; de cidades, províncias e de províncias, regiões inteiras.
"Muitos Puritanos preferiam que as igrejas tomassem conta dos pobres em suas próprias paróquias, onde julgariam entre a necessidade genuína e a fraudulenta."
Tal declaração é uma rejeição implícita à posição liberal moderna de que o modo de combater os males sociais é multiplicar agências sociais. Que as pessoas como indivíduos são decaídas os Puritanos sabiam tão bem quanto nós, mas eles também sabiam que as instituições não escapavam aos efeitos da Queda e são, de fato, o produto de pessoas decaídas. M.M. Knappen resume a teoria Puritana quando escreve:
Quando o Puritanismo é comparado com os sistemas modernos coletivistas, seu individualismo também aparece. Os pensadores do século dezesseis não depositavam fé no Estado como tal. A integridade de um sistema não salvaria alguém. Integridade deve haver, mas também deve haver cooperação pessoal e responsabilidade pessoal.
Os Puritanos eram igualmente individualistas em sua abordagem da ajuda financeira. Eles opunham-se à caridade indiscriminada e insistiam que ajuda fosse dada apenas àqueles em genuína necessidade. William Perkins pode ser considerado como típico quanto ao pensamento Puritano a respeito de mendigos e vagabundos. Perkins disse que eles "são (na maior parte) uma geração maldita", "pragas e chatos" tanto para a igreja quanto para o Estado. "É a boa lei da nossa terra", acrescentou ele, "agradável à lei de Deus, que ninguém deveria pedir, se é capaz de trabalhar". A injunção de Paulo de que "se alguém não quer tra¬balhar, que não coma" (2 Tessalonicenses 3.10) foi um dos textos citados mais freqüentemente entre os Puritanos.
Christopher Hill resume a atitude Puritana como uma questão de pensar que "a caridade indiscriminada... era uma ameaça social. Ela impedia o pobre de realizar suas responsabilidades e seriamente procurar emprego". Como resultado, muitos Puritanos preferiam que as igrejas tomassem conta dos pobres em suas próprias paróquias, onde julgariam entre a necessidade genuína e a fraudulenta.
"Increase Mather resumiu seus pontos de vista quando disse que o propósito da Bíblia é mostrar-nos 'como devemos servir a Deus, e como devemos servir à geração na qual vivemos'."
O plano positivo de contra-ataque ao dolo era pôr as pessoas para trabalhar e torná-las membros produtivos da sociedade. Richard Stock reivindicou que
esta é a melhor caridade, aliviar os pobres, ao fornecer-lhes trabalho. Beneficia ao doador tê-los a trabalhar; beneficia a comunidade não sofrer parasitismos, nem nutrir qualquer ociosidade; beneficia aos próprios pobres.
Quando Hugh Peter retornou à Inglaterra da América, disse ao Parla¬mento num sermão: "Tenho vivido num país onde em sete anos nunca vi um pedinte, nem ouvi palavrões, nem olhei para um bêbado; por que deveria haver mendigos na sua Israel, onde há tanto trabalho a fazer?” Richard Baxter, pastor em Kidderminster, empreendeu um programa bem-sucedido para capacitar os pobres para trabalhar na indústria têxtil.
Os Puritanos estavam profundamente preocupados com a qualidade da sua sociedade. Increase Mather resumiu seus pontos de vista quando disse que o propósito da Bíblia é mostrar-nos "como devemos servir a Deus, e como devemos servir à geração na qual vivemos". Servir à geração na qual vivemos: este sempre tem sido o lema dos cristãos que estão preocupados em viver sua fé no mundo.


Fonte: Santos No Mundo - Leland Ryken - Editora Fiel.