domingo, fevereiro 15, 2009

Lendo as Institutas - 3

Do capítulo 1


Já que o assunto é a epistemologia, isto é, a teoria do conhecimento (ver post anterior), nada mais conveniente que lermos a maneira como o reformador enxerga o conhecimento humano, e de que forma alcançá-lo.
"Quase toda a soma de nosso conhecimento, que de fato se deva julgar como verdadeiro e sólido conhecimento, consta de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como, porém, se entrelaçam com muitos elos, não é fácil, entretanto, discernir qual deles precede ao outro, e ao outro origina." (1.1.1, p.41)
"Ninguém pode sequer mirar a si próprio sem imediatamente volver o pensamento à contemplação de Deus... Pelo conhecimento de si mesmo cada um é não apenas aguilhoado a buscar Deus, mas até como que conduzido pela mão a achá-lo." (idem, p.41s)
Como comentei anteriormente, sem um forte embasamento, nosso conhecimento será pouco confiável. Só poderemos saber um pouco sobre nós mesmos, e ainda assim podemos estar enganados. É necessário que se una o conhecimento de Deus para que se possa esclarecer o conhecimento sobre o homem e sobre sua natureza.
"É notório que o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão dele desça a examinar-se a si próprio. Ora, sendo-nos o orgulho a todos ingênito, sempre a nós mesmos nos parecemos justos, e íntegros, e sábios, e santos, a menos que, em virtude de provas evidentes, sejamos convencidos da nossa injustiça, indignidade, insipiência e depravação." (1.1.2, p.42)
Verdadeiramente, uma boa antropologia só é possível após uma boa teologia. Aquele que não parte dos pressupostos corretos terá uma visão incorreta do homem. É por isso que muitas vezes critico a psicologia moderna e, especialmente, pastores dependentes dela. Não nego que haja verdade naquilo, mas é preciso sermos cuidadosos, ou estaremos relegando o homem ao papel de mera máquina, um animal ou coisa pior. Como Calvino, devemos nos lembrar do "Senhor, que é o único parâmetro" (idem). O homem é afetado pelo pecado, e mesmo seus sentidos falhos podem confirmar.
"Dos próprios sentidos do corpo nos é possível discernir ainda mais perto quanto nos enganamos ao avaliarmos os poderes da alma... forçados a confessar que essa nossa habilidade em contemplar as coisas terrenas, quando para o sol se voltou, é mera ofuscação." (idem)
A chave para o homem conhecer-se verdadeiramente é partir do pressuposto fundamental para quem quer um sistema de vida seguro - o conhecimento de Deus.
"Longe está de conformar-se à divina pureza o que em nós se afigura como absolutamente perfeito." (idem, p.43)
"O homem não é jamais tangido e afetado suficientemente pelo senso de indignidade, senão depois de comparar-se com a majestade de Deus" (1.1.3, p.43)
Que Deus nos dê essa disposição.