quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Lendo as Institutas 2


Da Carta ao Rei
Nessa seção, Calvino dedica sua obra ao Rei francês Francisco I, apresentando o motivo para escrevê-la. Ele também gasta algum tempo defendendo a igreja protestante, e a si mesmo, de calúnias. A seção tem alguns comentários interessantes, como o papel dos governantes:
"Com efeito, certamente esta consideração faz o verdadeiro rei: reconhecer-se um ministro de Deus na gestão do reino. Aquele que assim não reina para o serviço da glória de Deus não exerce o reino; ao contrário, exerce a usurpação." (Livro 1, p. 19)
Isto não significa união entre igreja e estado, mas trata-se da obrigação de cada ser humano, não importa quem seja e que cargo tenha, reconhecer-se como debaixo de um rei maior.
"Cristo, a quem o Pai constituiu Rei, para que domine de mar a mar e desde os rios até os confins do orbe das terras. E de tal forma, em verdade, deve ele imperar, que, percutida só pela vara de sua boca, a terra toda, com seu poder de ferro e bronze, com seu resplendor de ouro e prata, ele a despedecerá como se outra coisa não fosse senão diminutos vaso de oleiro, na exata medida em que os profetas vaticinam acerca da magnificência de seu reino." (p.20)
Outras passagens interessantes falam acerca de quem sustenta a verdadeira doutrina, e da natureza da igreja do Senhor. Entre elas, a famosa menção às duas marcas da igreja - pregação da Palavra e administração dos sacramentos.
"A marca distintiva da boa doutrina, da qual o autor é Cristo, é esta: ela não se inclina a buscar a glória dos homens, mas a de Deus." (p. 24)
"Nem se deve atentar para o que, antes de nós, outros, ou disseram, ou fizeram, mas para o que Cristo preceituou, que é de todos o primeiro." (p. 27)
"Nós afirmamos, em contrário, não só que a Igreja pode subsistir sem nenhuma expressão visível, nem que ela contém a forma nesse esplendor externo que estultamente admiram, mas em marca bem diferente, a saber, na pregação pura da Palavra de Deus e na legítima administração dos sacramentos." (p.29)
"Ele preservou os seus, ainda que não só dispersos, mas até mesmo submersos em meio aos erros e às trevas". (p. 30)
"Esta é como uma admissível propriedade da divina Palavra: que ela jamais vem à tona sem que Satanás se desperte e se assanhe." (p.32)
Em meio a toda essa polêmica, uma passagem me lembrou claramente o tempo em que vivemos, onde o errado é regularizado e o certo é proibido.
"Dificilmente em algum tempo as coisas humanas estejam tão bem que o melhor agrade à maioria. Portanto, o erro público quase sempre resultou em vícios particulares de muitos, ou melhor, o consenso comum dos vícios, que agora estes bons varões querem que seja tido por lei." (p.28)