segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Falso culto a falsos deuses

Como já afirmei aqui algumas vezes, um traço marcante da teologia de João Calvino é a ênfase no verdadeiro conhecimento de Deus, que tem como marcas a verdadeira piedade e a verdadeira adoração. Não é de se admirar, portanto, que concluindo a seção sobre ídolos e falsas divindades, o reformador volte-se novamente para a questão do culto a Deus.
"Dissemos no início que o conhecimento de Deus não está posto em fria especulação, mas traz consigo o culto... a não ser que resida no Deus único tudo quanto é próprio da Deidade, ele é despojado de sua dignidade e profanado é seu culto." (1.12.1, p.117s)
Chama atenção que uma das consequências de juntar Deus e outros deuses é gerar para o Criador uma "fria noção de autoridade suprema" (1.12.1, p.118). Mais uma vez vemos que Calvino não faz o tipo "acadêmico tíbio". Para ele, o conhecimento de Deus deve nos levar uma relação dinâmica e intensa com o Criador.
Dito isso, a falsa distinção entre Latria (culto, adoração) e Dulia (serviço) é novamente atacada, demonstrando a falácia dos papistas.
"De fato douleía é serviço, latréia, honra. Portanto, por certo que ninguém põe em dúvida que servir seja algo mais que honrar. Ora, com muita frequência seria penoso servir àquele a quem não recusarias render honra. Logo, seria uma partilha iníqua consignar aos santos o que é maior, e deixar a Deus o que é menor." (1.12.2, p.119)
Com todos esses argumentos levantados, só resta ao reformador fechar o caso, apresentando alguns exemplos de como a Bíblia rejeita servidão e honra a qualquer outro que não seja Deus.
"Paulo, quando traz à lembrança aos gálatas o que foram eles antes de haver sido iluminados no conhecimento de Deus, diz que haviam exibido dulia para com aqueles que por natureza não eram deuses [Gl 4.8]. Portanto, uma vez que não a denomina latria, porventura a superstição lhes seria escusável?" (1.12.3, p.119)
"E quando Cristo repele a investida de Satanás com este escudo: 'Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás' [Mt 4.10], não entrava literalmente a questão latria, porque Satanás não requeria senão προσκυνσεις [prostrar-se de joelhos em reverência]." (idem)
"Ao prostrar-se diante de Pedro, [Cornélio] evidentemente não o faz com o propósito de adorá-lo no lugar de Deus. Pedro, no entanto, o proíbe terminantemente de fazê-lo. Por quê, senão pelo fato de que os homens nunca fazem distinção tão precisa entre o culto de Deus e das criaturas, que não transfiram promiscuamente à criatura o que é próprio de Deus?" (1.12.3, p.120)
Mesmo os mais sinceros podem cair no laço da idolatria. Que nos examinemos para não repetirmos os erros do passado, escondidos debaixo de falácias e questões semânticas.