segunda-feira, março 12, 2007

É abominação atribuir forma visível a Deus. Os que se apartam do Deus verdadeiro, criam ídolos para si











Representar Deus por meio de imagens é corromper a sua glória


Como as Escrituras levam em conta o limitado e tacanho conhecimento humano, costumam elas expressar-se de modo acessível à mente popular, quando seu objetivo é distinguir o Deus verdadeiro dos deuses falsos. Elas contrastam o Deus verdadeiro com os ídolos e, ao fazerem isso, as Escrituras não estão aprovando o que de mais sutil e elegante os filósofos ensinaram, mas estão, antes, desnudando a loucura do mundo – mais do que isso, a sua completa loucura - , quando, ao buscar a Deus, cada um, a todo tempo, se apega às suas próprias especulações.
Por essa razão, a definição que, por toda parte, se mostra a respeito da unicidade de Deus, reduz a nada tudo quanto os homens inventaram para si no que diz respeito à divindade, pois somente o próprio Deus é testemunha idônea de Si Mesmo.
Por isso, pelo fato de este embrutecimento degradante ter-se apossado do mundo inteiro, de maneira que os homens procurassem representar a Deus de forma visível – forjando deuses de madeira, de pedra, de ouro, de prata ou de outro material qualquer inanimado ou corruptível -, temos de nos apegar ao seguinte princípio: todas as vezes que se atribui a Deus qualquer forma de representação, a Sua glória é corrompida de ímpio engano. Na lei, depois de atribuir a Si mesmo a glória da Divindade, quando quer ensinar que tipo de adoração aprova ou rejeita, Deus acrescenta imediatamente: “Não farás para ti imagens esculpidas, nem semelhança qualquer” (Ex 20.4), palavras com as quais nos proíbe o desenfreamento de tentar representá-lo por meio de qualquer figura visível. E mostra, de maneira breve, todas as formas pelas quais, desde há muito tempo, a superstição dos homens começou a transformar a sua verdade em mentira.
Ora, sabemos que os persas adoravam o sol e, também, sabemos que outros povos estultos inventaram para si outros tantos deuses quantas são as estrelas que viam nos céus. Para os egípcios não houve nenhum animal que não representasse uma divindade. Já os gregos – devemos reconhecer -, parece, foram mais sábios do que os demais povos, pois adoravam a Deus sob forma humana. Deus, porém, não compara essas imagens entre si, como se uma fosse mais apropriada do que outras; ao contrário, repudia a todas as efígies esculpidas, sem exceção, incluindo pinturas e outras representações por meio das quais os supersticiosos imaginaram que Ele devia estar perto.


João Calvino, nas Institutas da Religião Cristã.